Entenda como funciona o mercado bilionário das bonecas Reborn, os impactos econômicos e a polêmica envolvendo o uso desses brinquedos nas filas do SUS no Brasil.
As bonecas Reborn, conhecidas por sua aparência incrivelmente realista, tornaram-se muito mais do que simples brinquedos: elas movimentam uma indústria lucrativa, geram debates éticos e chegaram até mesmo às filas do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil, protagonizando uma das maiores polêmicas recentes ligadas à saúde pública.
Neste artigo, você vai entender o que são essas bonecas, como se deu o crescimento do mercado, quais os números dessa indústria, quem são seus consumidores, e, claro, todos os detalhes da controversa situação envolvendo o SUS.

O que são bonecas Reborn?
As bonecas Reborn são réplicas hiper-realistas de bebês, produzidas com materiais como vinil siliconado e enchimentos especiais que simulam o peso, textura e até o cheiro de um recém-nascido. A arte de “reborning” surgiu nos Estados Unidos nos anos 90 e rapidamente ganhou espaço em países da Europa, América Latina e no Brasil.
Essas bonecas são pintadas à mão, com veias aparentes, marcas de pele, cabelos implantados fio a fio e trajes típicos de bebês reais. Algumas chegam a vir com batimentos cardíacos simulados ou sons de respiração. Por esse nível de realismo, o público não é composto apenas por crianças: colecionadores, terapeutas e pessoas que lidam com o luto também são parte relevante do mercado.
Quanto movimenta esse mercado?
Embora ainda pouco regulamentado e com escassa medição estatística formal, estima-se que o mercado global de bonecas Reborn movimente entre US$ 300 milhões e US$ 500 milhões anuais. No Brasil, o setor cresce a taxas acima de 10% ao ano desde 2018, segundo dados não-oficiais de marketplaces e feiras especializadas.
Fabricantes individuais chegam a vender bonecas por preços que variam de R$ 800 a R$ 8.000, dependendo do nível de personalização. Algumas peças exclusivas ultrapassam os R$ 15 mil. O número de artesãos brasileiros que se especializaram no ofício de reborning já passa de 1.000 profissionais, muitos deles concentrados em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Quem compra bonecas Reborn?
Embora a ideia inicial remeta a brinquedos infantis, a realidade é mais ampla. Os principais compradores são:
- Colecionadores adultos que valorizam a arte do realismo.
- Pessoas em luto pela perda de filhos ou netos.
- Terapeutas que utilizam as bonecas para tratar depressão, Alzheimer ou ansiedade.
- Pais e mães que as usam para preparar crianças para a chegada de um novo irmão.
- E, sim, crianças, especialmente meninas, em busca de um brinquedo “mais real”.
O uso terapêutico é reconhecido por alguns profissionais, mas ainda carece de validação científica ampla. Mesmo assim, clínicas e terapeutas alegam que as bonecas ajudam a acalmar pacientes idosos, reduzir crises de ansiedade e oferecer conforto em situações de trauma.
A polêmica com o SUS: bonecas nas filas da saúde pública
No início de maio de 2025, imagens viralizaram nas redes sociais mostrando funcionárias da saúde pública utilizando bonecas Reborn para simular o atendimento de bebês nas filas do SUS. As cenas, captadas em postos de saúde no interior do Brasil, mostravam as bonecas “ocupando” a vaga de pacientes reais enquanto mães aguardavam atendimento com seus filhos nos corredores.
A justificativa oficial, segundo algumas prefeituras, era que as bonecas estavam sendo usadas como parte de uma simulação de fluxo no sistema de triagem. O objetivo seria treinar os profissionais em novos protocolos de acolhimento infantil. No entanto, a falta de clareza, comunicação e, principalmente, a escassez de recursos reais nas unidades gerou indignação pública.
Muitas mães se sentiram desrespeitadas, relatando que a prioridade deveria ser dada aos bebês de verdade que aguardavam atendimento em péssimas condições. A denúncia rapidamente chegou ao Ministério da Saúde e gerou pronunciamentos de autoridades, que prometeram investigação e reavaliação do uso desse tipo de metodologia.

Repercussão política e social
A reação foi imediata. Parlamentares da oposição questionaram o uso de verbas públicas na aquisição ou manutenção das bonecas. Líderes comunitários e conselhos municipais de saúde classificaram o episódio como “um retrato do descaso com a saúde pública no país”.
Por outro lado, algumas defensoras da prática afirmaram que o uso da boneca foi mal interpretado e que ela seria apenas um recurso técnico, e não uma substituição de pacientes reais.
A polêmica gerou debates nacionais sobre priorização de recursos, ética na saúde pública e até mesmo a desumanização do atendimento primário, reacendendo a discussão sobre o sucateamento do SUS.
O que diz a legislação?
Até o momento, não há uma legislação específica sobre o uso de bonecas Reborn em ambientes de saúde pública. O Ministério da Saúde permite treinamentos simulados com manequins e bonecos, mas desde que claramente separados do atendimento real ao cidadão.
Entretanto, o caso brasileiro mostra que o uso indevido ou mal explicado de recursos — mesmo que com boas intenções — pode comprometer a confiança da população e gerar danos à imagem institucional do SUS.
Lições e reflexões
O caso das bonecas Reborn no SUS é um exemplo poderoso de como símbolos, mesmo quando bem intencionados, podem ser mal interpretados ou mal utilizados. Mais do que uma simples polêmica, ele levanta reflexões importantes:
- O Brasil ainda enfrenta problemas sérios de comunicação pública.
- A saúde básica está em estado de fragilidade estrutural.
- Recursos simbólicos devem ser bem contextualizados para não causarem danos à imagem pública.
- A gestão eficiente da saúde deve passar também por empatia e sensibilidade cultural.
As bonecas Reborn representam um mercado em ascensão, que mistura arte, emoção e oportunidade. Movimentam milhões, geram empregos e têm valor terapêutico para muitas pessoas. No entanto, como vimos, o seu uso exige responsabilidade, principalmente quando está em jogo a saúde pública.
A polêmica do SUS não deve ser vista como um ataque à arte Reborn, mas sim como um alerta sobre a importância de planejamento, comunicação clara e foco no ser humano nas políticas públicas. O Brasil precisa mais do que bonecas — precisa de estrutura, investimento e respeito ao cidadão.
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